Apresentação por Castorino Cavalheiro

Faz-de-Conta que é Prefácio

PHB sempre foi um adversário gentil e temeroso. Sem a pretensão de ser mestre, mexe as peças do xadrez da vida com larga estratégia e a sapiência de seus cinqüenta e cinco anos adquirida no dia a dia de sua vivência de "aventureiro" nos Estados Unidos da América. Movido por uma amizade que muito prezo, lançou-me o desafio de prefaciar (ou apresentar, como ele mesmo diz) sua primeira incursão na literatura. Estratégia de enxadrista que inicia a partida com um C3BD, tentando atrair o parceiro para as facilidades de ganho...Armadilha! Armadilha que me deixou em situação delicada em vista de nossa profunda amizade. Profunda amizade que se iniciou não sei quando, mas que me parece eterna, herdada de um grande amigo (tardiamente reconhecido, confesso) que foi Paulo Combes Bosco. Conheci Paulão nos idos de 54/55, quando iniciava minha vida de casado no Rio de Janeiro, em meu primeiro emprego. Trabalhávamos na mesma firma, eu como auxiliar de escritório, ele como desenhista/projetista de equipamento contra incêndio. Amizade construída devagarzinho, mercê de minha admiração por sua capacidade de desenhista e que foi se firmando ao longo dos anos até que PCB (não confundir com o Partidão) encetou a viagem a que todos nós viventes nos destinamos. Paulinho ainda meninote. Na época nenhum de nós imaginávamos que uma outra amizade estava surgindo e amadurecendo para tornar-se algo concreto. Dizem que os extremos se tocam. Minhas concepções "filosóficas" sempre foram contrárias às de Paulo Hermano. A religiosidade dele causava-me algum espanto e acho que as minhas idéias eram aceitas por ele mais por nossa amizade e respeito do que pela convicção de que estavam certas. Sempre discordamos quanto à doutrina espírita e a certos dogmas da religião pregada por Cristo. Apesar disto, orgulho-me de merecer sua amizade e de ser convidado para rabiscar algo na apresentação de seu primeiro livro. Declaro-me mais do que suspeito para assumir tal tarefa. E se a intenção de PHB foi a de espicaçar o meu senso crítico e confrontar minhas idéias contrárias às suas convicções, errou na movimentação da peça. Devia ter iniciado o jogo com P4D! … Viver novamente! Foi isto que PHB fez ao deixar para traz uma rotina vitoriosa de competente administrador de empresas para jogar com a sorte em uma terra estranha e sem o domínio total da língua. Novas experiências, novos horizontes e novas vivências. O exercício da humildade, na execução de seus serviços de caseiro foi a semente do que hoje nos revela em seus escritos. A rotina nunca experimentada de empregado doméstico proporcionou-lhe uma abertura (ou reabertura, o que sei eu?) espiritual da qual me surpreendi ao ler suas primeiras notas no Jornal Amigo e que agora culmina com esta REDENÇÃO, na qual, tenho absoluta certeza, os que tiverem o privilégio de ler, encontrarão, em cada texto, algo que os farão repensar seus conceitos. REDENÇÃO é uma catarse que também nos conduz a reavaliar as nossas mais íntimas vivências. PHB escreve de dentro para fora, da alma para a razão, filtrando suas idéias pelo coração! Ouso dizer (e ele não vai gostar muito disto) que exagera um pouco quando empresta ao Cristo esta emoção que é própria dele, quando afirma "eu gosto de gente com a cabeça no lugar, de conteúdo interno, idealismo nos olhos e pés no chão". Auto retrato. Este é o Paulinho que eu não conhecia e que agora se revela de forma exuberante! Se não estou conseguindo expressar meu entusiasmo, virem as páginas até encontrarem o "Bate Papo", do qual tomo a liberdade de destacar: "Naturalmente nos chocamos fantasiando a nosso respeito, procurando até artifícios sutis para nos enganarmos pelo caminho de nossa mente, criando uma imagem que gostaríamos de ser e encobrindo o que somos; é óbvio que enxergar essa realidade é quase sempre não muito agradável e provoca reações dolorosas". Outro fragmento de um retrato de corpo inteiro que é essa imensidão de alma encarnada em Paulo H. Bosco! A segunda parte do livrete (sem conotações pejorativas, por favor...) lembra-me Paulo Coelho. Entretanto, à parte de nossa profunda amizade e de nossa divergências "filosóficas", ainda acho – comparando-o com Paulo Coelho – que PHB escreve com o coração e sabe muito bem do que está falando. Leiam e confiram. O livro inteiro é um colar de pérolas que nos falam ao coração e dentre as preciosas pérolas não posso deixar de citar mais uma em que fala da amizade. "O melhor amigo é aquele que nos faz melhores do que somos, que comunica o melhor de si mesmo com o mínimo de palavras, que, apesar de nos conhecer a fundo, nos ama como nós somos. Que nos diz a verdade na sinceridade mesmo sabendo que com isso possa nos desagradar. É aquele que nos quer mais felizes do que somos." Lendo PHB também "aprendi que é necessário mudar, rever conceitos, ser hoje melhor do que ontem e amanhã melhor do que hoje. Enfim, evoluir." Xeque mate!

Obrigado querido Castor,
Das heranças que meu saudoso pai me deixou, a maior, sem dúvida, foram seus grandes amigos Ao eterno amigo, amigo de meu maior amigo, amigo das boas horas de papos elevados e das muitas horas incertas, meu agradecimento por contribuir com este amador ensaio de coletâneas de palavras falando ao coração.
o autor

Um comentário:

PASSAGEIRA - NGH - Passageira @NGHPassageira disse...

Relendo a introdução de Castorino. Belo xeque mate. O tempo passa rápido. É tudo é lindo!!!